Thursday, February 23, 2006

Hoje não há aliterações, metáforas, metamorfoses ou analogias.

(tenho a cabeça em água! Um chover de perguntas sem conseguir orientar respostas coerentes que não se contradigam entre si...)

? o que é que aconteceu às crianças de hoje?
? o que é que aconteceu à educação e relação pais-filhos?
? se está mais próxima e afectuosa por que raio é que as crianças(inhas) andam a dar uma de dondocas até à hora de sair de casa, emancipadas no auge da idade de doutor académico mas sustentadas com mesadas chorudas dos bolsos dos pais (inhos) e ainda com empregada de cozinha pois nem um ovo estrelam?
? que anda a fazer o "super-proteccionismo" onde o menino não pode andar 100mts sozinho, mas quando se apanha mais espigadote (que hoje em dia parece que é lá entre os 10 e os 12 anos) se planeiam assaltos desde o café da esquina (ao rebuçado e ao tabaco) até ao tráfico e roubo à mão armada (de umas quantas gramas puríssimas que valem milhões)?
? desde quando é que nós nos esquecemos que a explicação inteligível de conceitos abstractos não é aplicável – é imitável!
? hoje estudasse até tão tarde e sem qualquer tipo de profissionalização. Porque é que cada vez mais se terminam com as escolas profissionais e se fomenta a cultura do “senhor doutor” porque se é um licenciado, sem qualquer experiência do “saber fazer” e imaturo no “saber pensar”?
? onde é que terminam as condicionantes ambientais (cultura social, económica, política e familiar) e começa a predisposição genética ou a apetência nata para uma directiva comportamental?
? nascemos Homo Sapiens Sapiens. Tazemos nos genes a agressividade da espécie que fez de um tudo para sobreviver. Continuamos em grande esforço para arranjarmos formas de nos distinguirmos dos restantes “animais”. Eles matam por genes e instinto de sobrevivência. Quando é que no nosso desenvolvimento surgem desvios pela destruição por prazer?
? a insensibilidade ao “outro” e a sua preservação íntegra como entidade começa quando? Quando a Barbie perde a cabeça e de nada se queixa; quando o carro de rally na PSP que se destrui mas continua navegável? Ou será que é quando o abuso, a permissão ao preconceito, o reconhecimento do poder sobre os pais, a falta de carácter e firmeza de sistema educativo pais- escola,... todos eles se mostram irresponsabilizados, deixando margem para um escalar de Impunidade!


Eu, com 6anos, cozinhava sopa para o almoço – meu e da minha mãe que viria a casa na sua pausa de meio-dia! Se não estivesse bem, por erro, aldrabice ou atraso meu, a dança era ao ritmo do chinelo!!!
Ia a pé para a escola, com o meu companheiro de medo, risota e correria – Alexandre Miguel! Os 3kms de caminho de permeio entre casa e escola, era entre esta e a outra floresta, fosse à chuva, sol, frio e calor, e com sorte de não ser a pé descalço (eu tinha umas botas)!
Trabalho infantil caseiro sempre tive!!! Queres”Batatas Fritas”? Então há que ir semeá-las! “Franguinho no Churrasco”? Há que criá-los e matá-los (sempre com a maior rapidez possível para que o animal não sofra)!
Dos 12 anos em diante, as férias eram a trabalhar fora de casa: com muito orgulho chegava ao final do Verão com calos nas mãos e sabedoria de um ofício na folha do Futuro!
Não tenho mazelas físicas ou mentais; não sou violenta nem descontrolada com outrem!! Aprendi que do céu, só mesmo a chuva é que cai – todo o resto tens que o merecer! E para isso, há que arregaçar as mangas e por mãos ao trabalho! E esta é a minha receita de Dignidade!

E isto tudo porque:
*passo todos os dias por uma escola primária. O ritual é o mesmo: atenção redobrada, nem tanto pela criança atrás de uma bola ou de um cãozinho... mas porque os pais não dão exemplos de civismo, mas sim de egoísmo! Não há respeito pelos outros! E as crianças aprendem por imitação...
*a primeira notícia da rádio de hoje: um grupo de adolescentes, entre os 15 e os 16 anos, mataram um travesti toxicodependente sem-abrigo. Método? Soco, pontapé e pedrada. Despedindo-se com “amanhã voltamos cá” durante 3 dias. Sucumbiu o desgraçado...
*muita criança recebe educação de princesa! Mas não valores! Justiça; Verdade; Perseverança; Responsabilidade; Abnegação; Partilha; Respeito!...

Tenho demasiadas perguntas e sinto-me com vergonha... não consigo dar respostas.
Está tudo baralhado entre a revolta, as nauseas e a minha responsabilidade que muita ou pouca, se calhar, é também alguma...