Wednesday, September 05, 2007

Inquebrável

Ossos...
Tudo em volta de ossos... desta feita é mais gesso, entenda-se...

Mas é a moral, a seiva empírica desta estrutura de massa mole e musculosa, orientada por essas peças de Lego, experiências Dele e da Mãe Natura, é essa que não quebra!

Atenta às histórias de canalha de chucha em cantos do chão ou da boca, tantas e quantas vezes ouvi a firmeza de carácter que fez dela meu berço do nada à rabugice da fralda.

É o ser “empregada de servir” na Ericeira, ainda com 9 anos... sem perceber nem como nem de que jeito, lá se viu ela a lavar louça estranha, em casa alheia e a levar cacetada pois balbuciou a oração que a “patroa” tentava ensinar ao filho – “empregada não ouve conversa de patrão”...
É o fugir desta que 2 anos depois descobre a mãe, já sem razão a guiá-la, e assume, a sua total e incondicional tarefa de enfermeira...
É com 15 anos que cuida de um pai machista que mesmo quando esta lhe faz curativo à perna gangrenada que o sentou naquela cadeira à já vários Outonos, que é ainda insultada como se uma vadia se tratasse - faz lembrar o cão que morde a mão que o alimenta... mas insistentemente lhe procura o pedaço mais suculento para o prato...
É o ser mãe que de esperanças se vê obrigada a um sistema militar que lhe rouba o calor da cama por cerca de 24 meses e no meio, a esperança esvaísse no parto que a parteira avisa que nada houve a fazer...
É o esconder facalhões entre o colo e a febril cria e sair já mascarada de fera para procurar o companheiro em reuniões dum partido qualquer proibido em tempos de População Ingénua Desiste Estóica .
É o abraçar a certeza de mais uma boca para comer... foi um tal tentar contrariar, mas “vaso ruim não quebra” que cá me fiz presente, com uma garota de 5 anos para alimentar e um pai, que de meio em meio mês, se faz ao hospital para estudo do seu vermelho sangue urinado que da razão não há sinal e o homem escoasse todos os dias, e a fonte, a este ritmo, vai secar...
É o “segurar as telhas” em tempestades de algibeira sem que o pão falte, mesmo que as sopas de leite sejam o único jantar que tenhas...

É... é porque por muitos os anos que cresçam em forma de camada de pó nas caixinhas que guardam estas histórias, a verdade, é que ela É! É, foi e será!

E é isso que faz com que seja para ela tão difícil aceitar que, agora de braço agasalhado a mistura de algodão e gesso, agora é a minha vez! A minha vez de dar, de ajudar, de cozinhar, limpar, lavar e passar... pois ela não sabe aceitar que agora tem quem a ajude!