...não movem moinhos”
Desta verdade não vou eu discorrer que de moinhos não reza esta história!!!
Mas... e do outro lado da questão?
Dos restos das águas passageiras... o depois da água que já passou... o após a seca chegar?
Disso não ouço eu falar...
Basta explanar um olhar e perceberemos pela disposição geográfica, particularmente linear de determinado tipo de vegetação, que nos quedamos junto a um rio, riacho ou ribeira. Serpenteando à sua volta, um infindável mundo habitado, do gigante salgueiro ao liliputeano escaravelho, subsiste e floresce.
Da fonte à foz, a desafogada água deixa a sua marca na paisagem.
Também assim se passa no disco das nossas recordações. Vai-se riscando, marcando, gravando, com mais ou menos relevo... mas deixando sempre marca...
Seja por sede da fonte, por desvio de corrente ou barramento temporário –não há mais água...
Mas o seu rastro está lá! Tudo o que a envolvia continua a contar a sua história!
A vegetação que terá sérias dificuldades em sobreviver; as margens, até agora escondidas por aldrabices ópticas, evidenciam-se agora numa amargura íngreme e árida; o leito do rio, que tantas vezes foi palco de fábulas poéticas, é agora exposto: essa água que dia-a-dia se enfeita de cor e vida, perfumada a nenúfares e jacintos, é faca de um só gume que descarnou tudo por onde passou...
Este leito nada tem de tranquilo, repousado ou refrescante: é áspero... agressivo... é ferida em carne viva que de tão rasgada à força jamais fechará...
E para isto... não há eufemismo nem na vida nem no coração.
“águas passadas não movem moinhos” mas os leitos são ferida que não sangra, mas não sara. São trilhos que (e como contam equilibristas de duas rodas!!!) se estás lá dentro, ao tentar sair... cais... ou pelo lodo, ainda fresco e viscoso, ou por tapete arenoso que se desfia a cada passo que dês... São como os verbos de acção na gramática inglesa, onde o passado é um continuing no presente, em que sem perspectivas que se finde por lá, fica mais uma vez – hoje... a tentar aprender a lição para que no futuro possa terminar a prova...
Só há uma solução! Sim!!! Optimismo!!! Afinal a Natureza é imitável engenheira que arranjará sempre solução!
... tempo...
... o vento derrubará montes e montanhas trazendo o uivo da mudança na voz dos arautos... a erosão limará margens... a vegetação tornar-se-á adaptável ou dará gradualmente origem a novas formas e mutações sobreviventes... o leito não só se camufla com também muda... Continuará leito... mas diferente: perderá o orgulho e altivez de quem, em continua resistência, geme sozinho... tornar-se-á brando... macio... e sereno... com o tempo!