Thursday, February 16, 2006

um vírus colorido

Gostaria que amanhã nascesse o mesmo Sol!
Que caísse o mesmo orvalho!
Que, se possível, fizesse shrink ao buraco do ozono...
Gostaria que não houvessem telejornais! Não porque não quisesse essas novidades, mas dessas verdades gostaria de me redimir...

Ser adulto não é aprender que cada acção tem consequências, mas sim, aceitar que só somos responsáveis por acolher ou escolher as consequências dos nossos actos.

Não posso mudar o mundo?
Porra!!! Não posso (em verdade – não quero!) aceitar isso! Sou uma Idealista!

Somos actores no mesmo palco, na mesma cena! Mas, se no teatro o actor tem como função a interpretação do seu papel em detrimento de uma representação, será que também o devemos ser num palco maior?
Representamos uma sociedade com um contexto, história, valores, tradição. Interpreto bem o meu papel?

Gostaria de mudar o mundo...

Lembro-me de um velho hábito já amplamente abandonado: a morte ao teatro!
Consistia em que, na última noite da temporada de uma peça, os actores, em palco e sem quaisquer preparação prévia, pregavam partidas uns aos outros! Coisas do género alterar textos, roubar deixas, insultar/ repreender companheiros e público, até mesmo destruição de cenários! (esta prática, por respeito ao espectador que só nessa altura teve oportunidade de assistir à peça, tornou-se obsoleta).
A verdade do acto tinha algum significado: através da morte da peça, faziam o luto da perda! Nunca mais será possível reunir as mesmas condições: os mesmos actores, a mesma forma de interpretação, os mesmos antecedentes, o mesmo público, o mesmo tom de maquilhagem, a mesma temperatura... aquela peça jamais será a mesma...

A física quântica tem como mote do seu paradigma filosófico a expressão “o bater das asas de uma borboleta, na Austrália, é um tornado, na América”.
Nada do que fazemos passa isento!
Posso então mudar o mundo? (sou pequenina... e não quero provocar furacões!!!)

Gostaria que não recebesse e-mails com torturas e violência... não porque não goste de ver nomes conhecidos na inbox ou que essas pessoas não sejam queridas e bem-vindas... mas porque, (além de não poder impedir que tais atrocidades aconteçam) é muito difícil ser espectador... indignar-me, tal como aquele que fez forward do horror, tem o trago amargo da expressão conformista do adulto “que mais posso eu fazer”...
Certamente... uma criança pintaria tudo de cor arco-íris!

Vou fazer morte ao teatro!
Que é o mesmo que dizer que se acreditar muito, talvez mais alguém ouça as vozes mudas da humanidade!
E talvez um dia, isso se torne um vírus de fácil contágio!